No dia 29 de Maio, vamos comemorar uma data muito especial: Lizzie Bravo, aquela garota brasileira que, em 1968, entrou no estúdio Abbey Road e gravou os vocais na faixa “Across The Universe” junto com os Beatles, está completando 70 anos.
Muitos músicos participaram das gravações das músicas dos Beatles, tocando diversos instrumentos e até cantando. Mas o caso de Lizzie é especial, diferente, inusitado. É um caso único de fã que conseguiu conviver com seus ídolos (e não se trata de qualquer ídolo, mas sim os Beatles!) e chegar ao ponto de ser convidada a cantar com eles, no mesmo microfone. E melhor… é brasileira! Isso nos enche de orgulho – para nós, beatlemaníacos brasileiros, é um legítimo orgulho nacional. Para comemorar essa data tão importante, reunimos uma pequena coleção de curiosidades e fatos interessantes sobre essa grande estrela.
Lizzie Bravo chegou a Londres em 14 de fevereiro de 1967, com 15 anos (a viagem foi presente dos seus pais em comemoração ao seu aniversário). No mesmo dia já estava na porta do estúdio Abbey Road (que então ainda se chamava EMI Studios). O lugar estava vazio, pois a aglomeração de fãs geralmente se formava para vê-los entrar no estúdio e poucos ficavam para vê-los sair. Mas foi o caso de Lizzie… e ela conseguiu!Não foi a primeira fã brasileira dos Beatles a fazer isso. Um mês antes, sua amiga Denise Werneck, também com 15 anos, já havia chegado a Londres, de onde passava, via correio, o que ia vendo, deixando Lizzie cada vez mais mais estimulada e ansiosa.Os dois primeiros Beatles que ela conseguiu ver foram John e Ringo, enquanto eles saiam do estúdio. Ela, que já havia visto e tocado no automóvel de John, já estava em êxtase, quando sua amiga fez o tão sonhado anúncio, conforme ela própria conta: “A Denise falou pra mim: ‘é ele’. E eu pensei: ‘ele quem?’. Antes, ela já havia me mostrado os carros deles, passei a mão na poeira do carro do John… aquilo soava tão irreal. Eu tinha acabado de chegar em um país estranho e, no mesmo dia, vi os quatros Beatles e o Brian Epstein, empresário deles. A Denise falou para o John: ‘essa é a Lizzie, minha amiga do Brasil que eu disse que iria chegar’. Não tenho ideia do que ele falou, não me lembro de mais nada dessa hora. Fiquei paralisada. Depois que ele foi embora, comecei a chorar”.A cena dos Beatles entrando e saindo do lendário local foi vista muitas vezes. Dezenas, talvez centenas de vezes. Sempre com uma câmera na mão (gastou muita grana com os filmes fotográficos), conseguiu muitas fotos de todos eles, além de suas esposas, funcionários, assistentes e até dos filhos e pets dos Beatles.Pelo menos um beatle fez música sobre essa turma de fãs que ficavam insistentemente onde quer que eles fossem: George Harrison. Ele fez a música “Apple Scruffs” em homenagem a essa turma. Foi lançada em seu álbum All Things Must Pass e no lado B do single com “What is Life”.Mas engana-se quem pensa que as fotos foram feitas apenas ali em Abbey Road. Lizzie também costumava peregrinar por locais frequentados pelos Beatles, inclusive nas suas residências. Várias dessas “visitas” foram registradas em fotos, que estão devidamente publicadas no seu livro Do Rio a Abbey Road.Além de várias fotos, Lizzie Bravo não perdeu a oportunidade de conseguir também vários autógrafos. Eles foram escritos em diversos pedaços de papel, em pelo menos dois álbuns (Sgt Pepper e Abbey Road) e fotos impressas. Mas certamente, o objeto autografado mais curioso que ela possui é… uma colher de pau e uma forma de bolo! Isso mesmo. A história é mais ou menos a seguinte: O casal Lennon/Ono precisava de algumas dezenas desses objetos para uma ação de arte conceitual e Lizzie, sempre no lugar certo, na hora certa, se dispôs a fazer esse favorzinho e ir compra-los. Ela mesma conta a história: “o john me pediu, através do seu secretário Anthony Fawcett, para comprar as colheres de pau e formas de bolo (50 de cada)”. Como agradecimento, ganhou uma, autografada pelo casal.Por sinal, fotos e autógrafos fazem parte do seu acervo, mas também vários outras pequenas lembranças que ela conseguiu recolher, como desenhos do john que ela encontrou no lixo de papel da Apple e um saco de balas vazio que o Paul pegou uma, enquanto conversava com Denise e ela.Além de pedir autógrafos e fotos, Lizzie também entregou alguns presentes aos Beatles, como um colar de pedras semibrasileiras (pro George, presente enviado pela amiga Regina) e um cachecol laranja de crochê que ela mesma fez (John). Existem fotos deles usando essas peças.Durante todo o esforço para estar perto dos Beatles, Lizzie conseguiu entrar na residência de pelo menos um beatle: Paul McCartney, na sua casa em Cavendish Avenue (não muito longe do estúdio de Abbey Road). Na ocasião, McCartney emprestou a Lizzie um aparelho gravador de fitas K7, que estava com baterias esgotadas. Segundo Lizzie, “ele fez uma piada sugerindo que queria apenas baterias novas, mas não era a sério, claro”.Across The Universe – O dia mais importante dessa aventura foi 04 de fevereiro de 1968, quase um ano depois dela ter chegado em Londres: “Era um domingo, e eles raramente gravavam em finais de semana. No dia da gravação, éramos poucas pessoas e, quando não tinha muita gente, o porteiro deixava que ficássemos dentro do prédio porque era muito frio. Estava conversando com as outras meninas, o Paul chegou e perguntou se alguma de nós conseguia sustentar uma nota aguda. Como eu sempre cantei em coral, disse que conseguia. Depois, mandaram me buscar e eu levei comigo uma amiga inglesa que também cantava em coral. Fomos para dentro do estúdio e, quando entrei, o Paul pediu para que eu cantasse em ‘brasileiro’. Fiquei com vergonha. Com 16 anos, os quatro Beatles e o George Martin na minha frente… fica difícil, né? Então, o John e o Paul nos ensinaram a letra da música, um no piano e outro no violão, e nos explicaram a parte que deveríamos cantar. Ao todo, ficamos duas horas e pouco com eles. O John me chamou para cantar com ele e explicou que o microfone era direcional, por isso tínhamos que cantar muito perto. Ele estava do meu lado direito e eu mal podia me mexer porque, se virasse, era capaz de beijá-lo. Depois o Paul me chamou para cantar com ele. Eu achei bem melhor, porque podia cantar e ficar olhando o John. Tem um trecho, no meu diário, onde escrevi: ‘queria ter podido não piscar para ver mais o John’. Nós ficamos muito tranquilas, rimos muito, fizemos brincadeiras, tomamos chá e comemos biscoitos. Foi um clima muito legal, e eles elogiaram muito nossas vozes”.Em novembro de 2015 Lizzie Bravo lançou o seu tão aguardado livro Do Rio a Abbey Road, onde ela expõe a maioria das fotos que fez, além de fotos feitas por outras pessoas, nas quais ela aparece. Tudo meticulosamente narrado através das anotações que ela mesma havia feito em seus diários, datas e detalhes incríveis. Por sinal, na excelente diagramação do livro, estão reproduzidos também vários souvenirs que ela juntava – como os já citados autógrafos, embalagens e pedaços de papel descartados por John, Paul, George e Ringo.A tiragem inicial do livro foi de mill cópias, que foram esgotadas em pouco menos de dois anos (em setembro de 2017). Mas quem não conseguiu comprar na época, não precisa chorar: está saindo agora, em pleno 2021, uma nova tiragem, revisada, igualmente com mil cópias.Aquele visual esplendoroso é trabalho da designer e fotógrafa Cecília Oliveira, melhor amiga da Lizzie, fã de Paul McCartney e responsável pelo visual de muitos livros – alguns dos quais provavelmente você já passou os olhos.Lizzie Bravo mantém contato com fãs brasileiros e também do mundo inteiro. Sempre muito atenciosa e gentil, se comunica principalmente através das redes sociais Facebook (www.facebook.com/bravolizzie), Instagram (www.instagram.com/lizzie_bravo), Twitter (www.twitter.com/lizziebravo) e também tem WhatsApp. Curiosamente, sua ferramenta mais utilizada é o velho e bom email lizzie.bravo@gmail.com – segundo ela, ainda tem vários amigos mundo afora que se mantém longe das redes sociais e só usam email. Ela também costuma mandar notícias dos Beatles e das suas atividades utilizando esse recurso. Também mantém um site oficial: www.lizziebravo.com. Em todos esses contatos, pode-se adquirir o livro Do Rio a Abbey Road e até solicitar uma dedicatória personalizada.Em todas as turnês que Paul McCartney fez no Brasil, Lizzie estava presente (também viu vários no exterior). Nesses eventos, centenas de fãs disputam alguns segundos ao seu lado, para fotografias e algumas palavras. Lizzie também costuma ser convidada para palestras em vários eventos, como a BH Beatle Week (Belo Horizonte), Beatle Day (Porto Alegre), Niterói Beatle Week (RJ) e outros.Em 2017, quando se apresentou em Salvador-BA, Paul McCartney recebeu de uma produtora, um exemplar do livro Do Rio a Abbey Road. Ele folheou todas as páginas e se divertiu muito vendo e comentando tantas fotos.Originalmente, o livro Do Rio a Abbey Road é um volume único, em formato quadrado, capa dura, todo em papel couchê de ótima qualidade, colorido. Mas nessa nova edição, virá acompanhado por um lindíssimo pôster inspirado exatamente naquele do White Album, apresentando uma montagem com várias fotos clicadas por elas e por outras pessoas, em que ela aparece ao lado dos Beatles.Não podemos deixar de observar que a nova edição vem atualizada e revisada. Não são muitas as modificações, já que a primeira tiragem havia passado por várias camadas de correções, adendos e observações. Mas nessa nova há pelo menos uma foto inédita, do George que, segundo ela, havia sido “esquecida”. Esta foto também está no pôster. Também há uma inédita de John, que deverá sair só na próxima edição, em inglês. Ou seja, se você é um colecionador, talvez valha a pena adquirir também essas novas edições.Outra barbada para colecionadores é a edição em inglês que vem aí. Já está em fase final do exaustivo trabalho e tradução e correção. Ela surge graças a um grande clamor de fãs estrangeiros em todos os continentes. Vários deles até já possuem o original, em português, mas solicitam diariamente uma versão em inglês para que possam entender todo o belo texto do livro.Além de Brasil e Inglaterra, Lizzie Bravo também viveu na Venezuela e em New York. Foi casada com o cantor Zé Rodrix entre 1970 e 1972, com quem teve uma filha, Marya Bravo. Filha de de duas pessoas tão talentosas, Marya não escapou da veia artística: é cantora com voz lindíssima e já tem 03 álbuns lançados (ambos disponíveis no Spotify), um autoral, um só de músicas do seu pai e um de músicas da época da ditadura, tocadas em ritmo de Rock. Também fez parte do elenco original do espetáculo Beatles Num Céu de Diamantes. Já Morgana, neta da Lizzie, vive na Itália, tem 28 enos e… também vive de arte: trabalhou no Cirque du Soleil (na área técnica), até que a pandemia de Covid forçou a empresa a demitir praticamente todos os funcionários.As atividades artísticas de Lizzie Bravo não se limitaram à participação na música dos Beatles. Ela tem uma longa folha de serviços prestados a artistas importantes da música brasileira, tanto como fotógrafa, quanto como vocalista. Na lista de participações fazendo vocais, consta álbuns de Milton Nascimento (“o ‘Bituca’, meu padrinho de casamento – entre outros, nos discos Minas e Geraes“), Egberto Gismonti (“com quem trabalhei por 7 anos, e um amigo querido até hoje”), Joyce (“minha comadre – sou madrinha da sua filha Ana – com quem cantei de 80 a 92 – fiz os vocais de muitos de seus sucessos, como ‘Feminina’ e ‘Clareana'”), Toninho Horta, Djavan, Ivan Lins, Roberto Carlos, Wanderléa, Zé Ramalho (“fui parte de sua banda, tendo como colegas vocalistas Elba Ramalho e Monica Schmidt”), Elba Ramalho, Cátia de França, Geraldo Azevedo, Têca e Ricardo, Lourenço Baeta, Mussum, Balão Mágico, Zé Renato, Som Imaginário, Erasmo Carlos, Zé Rodrix, Antonio Carlos e Jocáfi, Maria Creuza, Alcione, Fernando Mendes, Pery Ribeiro, Nora Ney, Alceu Valença, Betinho, Jorge Mautner, Dori Caymmi, Bahiano e os Novos Caetanos, Maria Bethânia, Simone, Sá & Guarabyra, Walter Franco, Amelinha, Marcio Greik, Caetano Veloso, Jerry Adriani, Jorge Mautner e outros.Como fotógrafa, geralmente Lizzie fazia as fotos do encarte: “fiz uma contracapa para um LP do Tavito e uma da Joyce. Os encartes foram para vários discos: Feminina e Água e Luz (Joyce), Lourenço Baeta (o LP tem seu nome), 20 anos do Boca Livre e fotos avulsas para discos de vários outros artistas, inclusive Egberto Gismonti”. Lizzie também fez muitas fotos de divulgação para gravadoras (muita gente para enumerar), para posters, etc – falaremos sobre esses lançamentos em um artigo específico.No Portal Beatles Brasil, Lizzie Bravo sempre foi figura muito presente. Sempre que possível, e que há algum assunto novo, são publicadas notícias sobre ela. Você pode ver o nosso arquivo sobre Lizzie Bravo aqui: https://portalbeatlesbrasil.com.br/new/?s=Lizzie+Bravo
PARABÉNS, QUERIDA LIZZIE BRAVO!